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Imagem: Dalai Selino/Esp CB/D.A Pres |
Uma linha de móveis feitos com madeiras recolhidas no lixão da Estrutural e recicladas por catadores de lixo. Foi nessa idéia que o estudante de Desenho Industrial da Universidade de Brasília (UnB) Thiago Lucas dos Santos investiu para elaborar seu projeto final de graduação.
Na última quinta-feira (8/9), Thiago apresentou à banca examinadora um conjunto de mobílias composto por um banquinho, uma mesa lateral e uma mesinha de centro, todos feitos de madeiras de demolição civil. O trabalho, chamado “Linha de mobiliário com madeiras descartáveis”, garantiu nota máxima na conclusão de curso do estudante.
A pesquisa do designer começou a ser feita a partir de uma disciplina de desenvolvimento socioambiental, ministrada no curso Desenho Industrial há dois anos atrás, que se estende até hoje. E os resultados vão muito além dos muros da faculdade.
O espaço escolhido para por em prática o projeto de Thiago foi a cooperativa de catadores Sonho de Liberdade, que possui cerca de 60 integrantes, incluindo ex-presidiários, sendo 30 deles responsáveis pela coleta de madeira.
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Imagem: Dalai Selino/Esp CB/D.A Pres |
A proposta era desenvolver um método simples de fabricar móveis e ensinar esse método aos catadores para que eles pudessem mobiliar suas próprias casas. Diante da boa recepção da experiência pelo grupo, Thiago enxergou na construção de móveis uma oportunidade de agregar valor ao trabalho dos catadores e decidiu ensinar os catadores da cooperativa a produzir e vender estes móveis, como fonte de subsistência e reintegração social.
O ex-aluno da UnB conta que antes de surgir o projeto, os catadores faziam ripas para faixas de propaganda política. O trabalho demandava muito tempo e o resultado não era satisfatório. Muitos dedicavam o dia inteiro na confecção dos materiais para lucrar apenas R$5,00.
“Com a fabricação de móveis mais estilizada e comercial o lucro da Cooperativa deve aumentar e isso vai mudar pelo menos um pouco a vida dessas pessoas”, explica Thiago. A linha desenvolvida pela designer ainda não está sendo comercializada. Ele observa que a cooperativa necessita de mais apoio e está em busca de financiamento.
Os móveis são trabalhados a partir de um desenho geométrico de encaixe, o que permite que as pranchas de madeira sejam montadas e desmontadas. “Tentei fazer algo que se adequasse à realidade da cooperativa, que pudesse ser produzido lá dentro”, relata o autor do projeto.
Para ter certeza da viabilidade de se confeccionar os produtos, Thiago decidiu por a mão na massa. “Eu mesmo construí os móveis. Se eu, que não sou marceneiro, consegui fazer os móveis em uma tarde, o pessoal da cooperativa, que já tem a técnica de produção, vai fazer muito mais rápido”, explica.
Thiago diz que apostou na cooperativa Sonho de Liberdade, pois eles fazem um trabalho dinâmico e são bem estruturados. E ressalta a importância do fundador e coordenador da cooperativa, Fernando Figueiredo, para que o processo se desenvolva. “Agora nós não sabemos quando vamos começar a comercializar. Mas sabemos que isso vai acontecer com ou sem financiamento, porque o Fernando sempre dá um jeito de fazer a coisa acontecer”.
A cooperativa já possui alguns parceiros para desenvolver o projeto, dentre eles, o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB) e a Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do DF (CENTCOOP-DF).
Apesar de criar uma possibilidade para mudar a vida de catadores da Estrutural, o recém-formado estudante de designer garante que a transformação inicial aconteceu com ele. “Eu sei que parece que eu estou fazendo um projeto para melhorar a vida dos outros. Mas a primeira mudança que eu notei foi em mim. Eu cresci muito trabalhando com a cooperativa, de um jeito que não cresci em cinco anos de faculdade”.
Depois de graduado, Thiago já trabalha como bolsista da universidade, capacitando catadores para a produção de sua linha de móveis.
Fonte: Do Correioweb